sábado, 23 de janeiro de 2010

A História como Veículo de Comunicação


Genival Ferreira de Miranda (Revelando São Paulo 2009).

Contar histórias é uma forma de comunicação. Mesmo sem se dar conta as pessoas usam este artifício no dia a dia. É comum, querendo dar mais ênfase ou veracidade a uma afirmação, o interlocutor usar de uma história acontecida com ele, com amigos ou até, uma que “ouviu falar”. Isto dá uma impressão que a outra pessoa irá entender melhor aquilo que se esta querendo transmitir.

Partindo deste ponto as histórias podem ser usadas com as mais diversas intenções, e uma delas é como uma forma de comunicação entre pais e filhos. Principalmente porque os pais tem sempre muitas coisas que gostariam de falar para seus filhos e, as vezes, não sabem como faze-lo. Isto porque pode haver uma certa insegurança em saber se a criança poderá entender ou não aquilo que se deseja falar e também, porque há uma presunção, na maioria das vezes acertada, de que ela não terá muita paciência para ouvir. Pudera há tantas outras coisas interessantes para fazer!

As crianças poderão não entender o conteúdo daquilo que se deseja transmitir: As histórias irão colocar os elementos desejados dentro de um contexto simples e adequado ao entendimento da criança. Os elementos chaves que se deseja comunicar não estarão soltos, exigindo um pensamento abstrato para dar-lhes sentido, eles já estarão encadeados dentro da história. Compreender a história irá significar compreender situações, razões e resultados, que em última análise são os elementos que se deseja transmitir.

A impaciência ou incapacidade de se concentrar por um período mais longo: A história tem a propriedade de interessar a criança e com isso mantê-la atenta.

Qualidade da mensagem

Partindo do ponto de que as histórias são bons veículos de informação, resta a pergunta: mas que tipo de informação?

Pode-se transmitir bem, mas isto não será necessariamente bom ou construtivo para a criança. Isto leva à reflexão: o que se deseja transmitir?

Assim, quando os pais se depararem com uma história com potencial para ser contada para seus filhos, deverão discernir no seu conteúdo a que tipo de conclusões ela levará, quais sentimentos despertará, se ela poderá incentivar ou inibir determinada conduta.

Se não houver esta preocupação inicial corre-se o risco de estar comunicando, até comunicando bem, algo indesejado, que não está de acordo com as crenças e valores de quem a está narrando.

Deve-se tomar cuidado de analisar a história não só pelo seu roteiro principal, mas também pelos acontecimentos periféricos, secundários. Uma história poderá estar valorizando a coragem de determinado príncipe, que luta pela salvação de seu povo. Mas se na intimidade este príncipe for arrogante e mandão com seu fiel escudeiro, a história estará valorizando a coragem, mas também comprometendo a cortesia que um cavaleiro deve ter. Estes detalhes poderão passar despercebidos, mas o trato com empregados está mais próximos das crianças do que a luta pela liberdade de um povo.

As histórias de fadas

Dentre as diversas categorias que as histórias podem se dividir, as histórias de fadas aparecem como as preferidas para as crianças, porém, curiosamente muitas delas apresentam uma dose de violência que gera uma certa perplexidade: porque histórias tão violentas são milenarmente utilizadas com crianças?

Em Rapunzel o príncipe vaga cego por muitos anos, Bela Adormecida é condenada a morte simplesmente porque seus pais deixaram de convidar uma das fadas e, em Branca de Neve, sua madrasta, por não tolerar a sua beleza, manda mata-la. A sina de Branca de Neve só é atenuada porque o caçador que deveria mata-la penalizado, mata um cervo em seu lugar e coloca o coração ensangüentado do animal em um baú para entrega-lo à rainha como prova de ter cumprido a sua missão. Como se matar um animal fosse coisa boa, principalmente em uma época em que lutamos para despertar a consciência ecológica em nossas crianças e o amor aos animais. Será que isso é coisa de criança?

O conceituado psicanalista inglês Bruno Betellhein em seu livro: “A Psicanálise dos Contos de Fadas” traz contribuições importantes para se entender o efeito que os contos de fadas causam nas crianças. Como é sabido, as crianças tem uma forma diferente dos adultos de entender e refletir. As crianças pequenas não conseguem desenvolver um raciocínio de causa e efeito. Seu entendimento é baseado muito mais na emoção do que na razão. Assim, querer persuadir uma criança baseando-se em argumentos racionais, comum aos adultos, terá grandes possibilidades de fracassar.

Os medos que os adultos sentem, da violência, instabilidade financeiro, de perder a saúde são percebidos pela criança e, embora ela não consiga entender, também tem medo, e o pior é absolutamente incapaz de fazer algo para vence-lo ou de encontrar argumentos para diminuí-lo.

As histórias, entre outros efeitos, irão aparecer como um bálsamo para esta situação. Na história de chapeuzinho vermelho, por exemplo, o lobo funciona como um símbolo do perigo, de alguém com quem se precisa ter cuidado. E o que acontece: ele engole chapeuzinho, e em algumas versões a vovó também, o que significa que os temores se concretizaram. Porém, quando aparece o caçador, ele abre a barriga do lobo e de lá sai chapeuzinho vermelho intacta e feliz. Isto irá mostrar para a criança que mesmo que os terríveis males aconteçam, as coisas podem acabar bem, isto lhe dá esperança e, conseqüentemente, segurança.

As fábulas

Atribui-se à Ésopo e, posteriormente, à Fedro, a idéia de usar as fábulas para transmitir situações de relacionamento dos seres humanos, encerrando lições e ditames de comportamento de uma forma velada, protegida pelo fato dos protagonistas serem animais. Isso fica mais claro quando sabemos que ambos eram escravos alforriados, nesta situação é fácil imaginar que eles usariam esta liberdade para transmitir mensagens aos demais escravos usando os animais como proteção. Foi graças a La Fontaine que as fábulas chegaram até nós, e este não usou as fábulas com outro objetivo, plebeu freqüentador da corte e vivendo em uma época de grande injustiça social na França, as fábulas apareciam como um meio de falar verdades de forma alertadora e segura.

As fábulas encerram padrões de comportamento, evidenciam valores e geralmente apontam para soluções justas. E, da mesma forma que foram usadas a séculos atrás, elas podem ser usadas modernamente pelos pais para falar sobre estes padrões de comportamentos com seus filhos. Usando-as os pais poderão falar sobre verdade, lealdade, altruísmo, despojamento, bondade e tantos outros valores, no momento exato que seus filhos precisam ouvir, quando perceberem que fatos ou os próprios sentimentos de seus filhos estão necessitando de um modelo de comportamento.

Então ter um repertório de histórias, de seus diversos tipos: de fadas, fábulas, lendas, mitos, para serem “retiradas do baú” na hora necessária, se torna uma importante ferramenta para ser usada na educação. E o que é importante, as histórias não propiciam uma educação condicionante, ao contrário, elas são um convite para o pensar, para a investigação e para se chegar às suas próprias conclusões.

As histórias de fadas são mais adequadas às crianças pequenas, já as fabulas, as lendas e mitos, são mais adequadas às crianças com mais de sete ou oito anos. Mas isso não quer dizer que as crianças não irão gostar mais de histórias de fadas quando ficarem mais velhas ou, ao contrário, as pequenas não apreciam as fabulas. Esta adequação está relacionada ao entendimento e ao aproveitamento que ela terá ao ouvir a história. Ou seja, liberta de medos e com resposta a algumas de suas indagações sobre a vida, a menina e o rapazinho irão ouvir as histórias de fadas de outra maneira, se encantando com a magia, vibrando com a aventura. Já a pequenina, poderá não entender as razões que levaram a raposa da fábula “A raposa e as uvas” a agir dessa forma, mas gostará de ver o fantoche, dará risadas quando a sua mãe fizer a voz mais grossa para imitá-la.

O desenvolvimento que todas as histórias propiciam

Cada história tem uma mensagem específica, típica ao seu roteiro e que motivou a sua escolha de acordo com a mensagem educacional desejada pelo seu narrador.

De forma genérica as histórias contribuem com diversos aspectos da formação de crianças e jovens. Estes aspectos podem variar de intensidade de uma história para outra, porém, pode-se dizer que de maneira geral todas as histórias propiciam o desenvolvimento:

Atenção e raciocínio: Todos sabem que as histórias têm o poder mágico de prender a atenção das crianças (e a experiência mostra que a dos adultos também). Isso por si só já é um exercício, mas as histórias provocam muito mais do que isso. A crianças acompanham os fatos e fazem conjecturas, como será que o herói se saíra dessa situação? Será que o ratinho, por gostar somente de queijo, rejeitará o chocolate? A princesa encontrará o príncipe e será feliz novamente? Ao tomarem conhecimento do desfecho do enredo irão compará-lo com as suposições que fizeram, isto fará com que elas exercitem a relação de causa e efeito, que faz parte do seu amadurecimento.

A narrativa exercitará também a memória, pois as maldades feitas pela rainha má serão relembradas, no final da história, quando esta for castigada. Alguns personagens que aparecem apenas no início da história, podem ter um papel decisivo no seu final. A criança por estar interessada no enredo gravará elementos e detalhes que sabe que lhe trará satisfação em outra parte da história. Isto também pode acontecer quando a mesma história é contada diversas vezes, a cada nova narrativa a criança saboreará melhor estes elementos. E as crianças tem uma predileção por ouvir a mesma história muitas vezes, isto porque ela quer ter certeza de que o mal foi derrotado e que tudo acaba bem no final. Senso crítico: Sem dúvida pensando na formação do cidadão de amanhã, umas das maiores preocupações dos pais é formar um homem e uma mulher crítico, que tenha capacidade de analisar o que está a sua volta, avaliar o que está de acordo com os seus princípios e o que não está, e tomar decisões de acordo com as suas próprias convicções.

Isso nem sempre é fácil perante uma sociedade massificante onde as informações se cruzam em velocidade vertiginosa e nem sempre com objetivos explícitos.

As ingênuas histórias podem ser um motivo para os pais discutirem com seus filhos comportamentos, posicionamentos. Não de forma impositiva, mas sim convidativa ao pensar. Os pais poderão perceber, encantados, que a forma de seus filhos verem os fatos vão amadurecendo a medida que eles crescem.

As crianças pequenas ficaram encantadas quando Cinderela apaixona-se imediatamente pelo príncipe. Mas as mais velhas poderão ser questionadas se somente o fato de ser bonito, rico e poderoso é suficiente para alguém se apaixonar.

E será que o Patinho Feio não seria mais feliz continuando feio, mas filho de sua mãe pata e irmão dos patinhos, do que se transformar em um cisne belo, porém, sozinho?

O que importa é que as histórias vão trazer o contexto, onde os pais com habilidade poderão fundamentar uma discussão que busque produzir a reflexão e o exercício do senso crítico.

Imaginação: As histórias conduzem o ouvinte às mais diversas paragens e, não há limite. Uma boa narrativa pode levar ao fundo domar, acima das nuvens, a países distantes, ao futuro e ao passado.

A descrição detalhada, fará com que o ouvinte sinta o cheiro das flores, visualize a grama verdinha e se encante com o cavalo alado que dorme sossegadamente. Porém, a este detalhamento não deve ser exagerado, a fim de permitir que o ouvinte coloque a sua “própria” cor do céu, enfeite o campo com árvores. A narrativa é um convite para que a imaginação se desencadeie e complemente o cenário.

Criatividade: Nos dias de hoje sabe-se que a criatividade é diretamente proporcional à quantidade de referência que uma pessoa possui. As histórias são capazes de dar estas referências às crianças. E o que é importante é que estas referências não são apenas aquelas apresentadas a elas, prontas, de forma conceitual ou visual. Mas são também resultantes de seu próprio raciocínio e de sua imaginação.

Nesta linha de raciocínio podemos afirmar que por proporcionar referências as histórias incentiva a criatividade.

Mas, podemos ir além disso. As histórias fornecem um contexto com o qual podemos trabalhar de diversas maneiras fazendo com que as crianças sejam convidadas a criarem. Após ouvir uma história podemos pedir que ela faça um desenho da cena que mais gostou, ou a modele em argila. Um grupo de crianças poderá representa-la ou, mesmo, ser convidado a fazer a sua continuação. Será necessário criar o roteiro, fazer o cenário, o figurino. Situações que ficariam difíceis de serem pedidas aleatoriamente, mas que ganham sentido dentro de uma história que acabou de ser contada.

Afetividade: As crianças adoram ouvir histórias e querem que seus pais contem sempre mais, que contem a mesma história outras vezes. Isto se dá pelo prazer que ela tem de ouvir histórias, mas também pela situação de aconchego que ela representa.

Neste momento seu pai, ou sua mãe, é só dela e lhe dedica a mais completa atenção. Ela poderá estar no seu colo ou os dois estão largados em uma montanha de almofadas, e para ela esta situação poderá se perdurar infinitamente...

Estes momentos de cumplicidade, aumentam o companheirismo e favorece a afetividade. Isto faz com que as relações melhorem, melhorando as relações o diálogo é favorecido. Mais diálogo mais compreensão, mais confiança, mais conhecimento das peculiaridades das crianças e, em contrapartida, mais abertura para um ouvir o outro.

Transmissão de valores: As histórias são excelentes veículos para a transmissão de valores, porque dão contexto a fatos abstratos, difíceis de serem transmitidos isoladamente.

Como falar com crianças, perante a constante valorização da esperteza, que mentir não é a melhor solução? E que não é porque o mentiroso é talentoso e está seguro que está garantido que o ouvinte está sendo convencido? Como transmitir um conceito que a mentira deixa mais vulnerável o mentiroso do que aquele que pretensamente se deseja enganar?

É difícil, mas a história de Pinochio magistralmente cumpre este papel de forma simples: O boneco de madeira mentia e o seu nariz crescia, ficando assim formidavelmente vulnerável!

As histórias, conforme já foi colocado, são um verdadeiro celeiro de fatos que enaltecem os valores éticos, o que precisa é que aquele que irá contá-las esteja aberto para este fator. É preciso que ele acredite realmente na veracidade das afirmações que a história encerra dentro de sua fantasia.

Para que isto aconteça cada um deve escolher as histórias que realmente lhes são verdadeiras, que batem com os seus valores pessoas, que estejam de acordo com aquilo que ele deseja transmitir. Somente dessa forma ele poderá transmitir o que deseja de forma convincente.

É importante, também, entender os artifícios que a história usa para transmitir a sua mensagem, pois eles deverão ser narrados de forma fiel, a fim de proporcionar a compreensão desejada.

Quando se narra a história dos Saltimbancos, que valoriza a união, a formação de equipe. Se o narrador não deixar muito claro que o burrico não tinha forças para puxar a carroça, o cachorro não assustava mais ninguém, a galinha não dava mais ovos e a gatinha não servia mais para caçar gatos. Como justificar a súbita coragem que a união de todos fez nascer, fazendo com que o grupo conseguisse espantar perigosos ladrões. Assim a história deve ser escolhida tendo em vista a faixa etária da criança, o seu nível de compreensão, o momento adequado de aborda-la e, principalmente, estar de acordo com os valores que os pais acreditam como algo significativo para a formação de seus filhos.

Porém a escolha adequada não finaliza a questão, há que passa-la de forma clara, com graça, humor, causando suspense, emoção. Deve-se usar a voz adequada, fazer gestos, usar a expressão facial e a corporal.

Pode-se usar de recurso auxiliares que irão encantar as crianças:

fantoches, sombras, marionetes. E pode-se fazer uma série de atividades que irão potencializar os objetivos educacionais pretendidos e sobretudo propiciar saudáveis e felizes momentos de convivência entre os pais e seus filhos. Mas isto já é outra história...

Contar Histórias: Uma Arte Imortal


Nos últimos anos, a arte de contar histórias vem sendo retomada não apenas por terapeutas e educadores, mas por pessoas de todas as formações, de várias camadas da sociedade, que se reúnem para partilhar sabedoria, afeto e energia através das narrativas. Para fazê-lo, não há regras: o melhor é usar o coração e a intuição, além da experiência que só se adquire através do tempo. No entanto, uma discussão acerca do que significa contar histórias e do que é necessário para isso pode nos levar a alguns pontos interessantes.

Em primeiro lugar, é preciso saber que contar histórias é uma arte popular. Uma aproximação excessivamente acadêmica e/ou sofisticada pode esvaziar o conteúdo emocional da narrativa, deixando o público pouco à vontade. Da mesma forma, deve-se ter em mente que, embora o ato de contar histórias possa se inserir numa proposta terapêutica ou num projeto pedagógico, não se pode agir de forma mecânica, apenas para cumprir um dever ou para ensinar o que quer que seja, de regras gramaticais a valores doutrinários. As histórias devem ser contadas por e com prazer. Se não, nem vale a pena começar.

O background cultural do narrador e a sua familiaridade com as histórias também são importantes. Ao narrar um conto maravilhoso, por exemplo, é muito mais importante conhecer e ser capaz de visualizar o cenário em que ele se desenvolve do que saber as palavras exatas. Saber de onde vem a versão que se está narrando é bom, mas melhor ainda é saber trabalhar, criativamente, com os elementos fornecidos pela narrativa, e ser capaz de levar o público a se identificar e se interessar por ela.
A escolha do repertório é fundamental para um contador de histórias. Segundo SAWYER, mesmo os contadores mais experientes encontram dificuldades com alguns textos e mais facilidade com outros, sugerindo que se trabalhe com três tipos básicos de material: literatura popular (onde se incluem os contos de fadas), contos literários e trechos de livros (SAWYER, 1990, p. 153). Para ela, a literatura popular é a mais fácil de trabalhar, pois tem uma linguagem universal e uma estrutura narrativa simples. A opinião é partilhada por RIBEIRO, segundo o qual “por mais que os requintes e lançamentos literários sofram um constante aperfeiçoamento (...) a literatura infanto-juvenil continuará tendo a sua faceta mais atraente na literatura de tradição oral e mais propriamente nos contos de fadas (RIBEIRO, 2002, p. 14-15). Mesmo para um público de adultos (ou misto) essas histórias jamais perdem o seu encanto, sendo no entanto aconselhável que o narrador a estude previamente, conhecendo-a bem, a fim de ser capaz de transmitir todas as nuances contidas em cada trecho e em cada elemento da narrativa.

A propósito desse assunto, é preciso esclarecer que existem diferenças entre contar, ler e representar histórias, embora todas elas envolvam uma preparação e uma performance mais ou menos elaborada. A forma como se vai trabalhar depende de nossos gostos, de nosso estilo, de nosso objetivo... e, antes de tudo, de nossa sensibilidade. De qualquer forma, o narrador se beneficiará do domínio de algumas técnicas de voz e expressão corporal, bem como – mais uma vez – do conhecimento profundo da história e dos personagens. A sutileza é sempre preferível ao exagero. Como diz BUSATTO, “o Lobo Mau não precisa falar grosso para demonstrar sua ferocidade (...). O que podemos carregar do teatro é justamente a intenção que carrega um ritmo preciso” (BUSATTO, 2003, p. 76).

A partir daí tudo se torna uma questão de tempo, de paciência, de experimentação e, por que não dizer, de ousadia por parte do narrador, que irá acertar e errar muitas vezes ao longo de sua trajetória. No entanto, se for essa a sua vocação, ele irá persistir... uma vez que, para o verdadeiro contador de histórias, o ato de narrar é parte inseparável da vida.

Contar histórias não é um ato apenas intelectual, mas espiritual e afetivo. Por isso, as melhores histórias são as que contamos espontaneamente, a partir do que carregamos em nossa bagagem de cultura e de experiência de vida. Independente de qualquer sentido, contar histórias pressupõe antes de tudo a vontade de falar do que se sabe, de doar sabedoria e conhecimento, de passar adiante aquilo que se aprendeu. Mais simplesmente ainda: contar histórias é aumentar o círculo. E, mesmo na falta de uma fogueira ou das lareiras de nossas avós, podemos fazê-lo aqui e agora, partilhando nossas histórias, lançando fios invisíveis que nos unem numa só rede.

Um Novo Olhar Sobre o Mundo


Genival Miranda no Revelando São Paulo.


Os contos mostram o mundo que conhecemos, de um ponto de vista novo, e de certo modo bem peculiar. São histórias bem humoradas, que bem poderiam expressar a realidade do ser humano como o conhecemos, mas as coisas nunca são o que parecem ser.